Síndrome de Tédio

Maior que a pena da condenação

É o convívio compulsório com os demais sentenciados.

É o ter que suportar - lhes, com paciência e compreensão,

O caráter, a ignorância, a vaidade, a presunção, a boçalidade,

Com a consciência de que o mesmo representais!

Sem que vos anunciem a culpa,

No calabouço das limitações vos enfiaram incondicionalmente !

Descobristes que a liberdade tornara - se mera ficção, fuga, desculpa.

Já nascestes condenado por existir.

Construístes o sentido da vida,

Conquistastes compensações , como sardinhas de foca amestrada.

Mas a vossa sentença continua imbatida,

Definindo a trajetória de uma insidiosa estrada.

Tomastes consciência da realidade, hipócrita, irônica.

Reagistes em profundos mergulhos no mar das tentações.

Alienastes, voluntariamente, na busca da saciedade,

Mas encontrastes , senão, holocausto, decepção!

Dormistes com a corda no pescoço

E acordastes com a cabeça dependurada no mastro da desesperança.

A hipocrisia, mãe da humanidade e do fracasso,

Desfila onipotente, continuamente,

Envolvendo - vos numa indesejada dança.

Mas, o ópio está aí , ao alcance do faz de conta.

Ingresso para a viagem apenas,

Nunca para a chegada.

Divinismo, ateismo, misticismo, holismo, física, metafísica,

Estética, ética, meleca !

Como o cego apóia na sua bengala,

Apoiastes no vosso credo.

Mas a realidade permanece, inerte, implacável , inexorável.

Sequer vagastes como os micróbios . . .

Pagastes o preço por possuir - vos consciência.

Uma consciência que nada realmente altera,

Mas que faz de vós infeliz por encarar os fatos .

 

 

Di Amaral
Enviado por Di Amaral em 16/02/2008
Reeditado em 24/05/2016
Código do texto: T861498
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