Clima:Tédio
Quem chega aos vinte, sente-se um semeador finalmente adulto,porém ansioso.
Nos trinta,alguns frutos já estarão maduros e serão colhidos com a avidez de quem pagou pra ver.
Aos quarenta, o cultivo continua já sem pressa ,mas não sem a esperança de que ,nos cinqüenta, aquela semente brotada e cultivada possa finalmente ser provada em toda a sua plenitude de sabores e perfumes .
Mas há também os tempos intermediários,aqueles de esperar a chuva passar,ou de desejar que chova pra molhar o que secou durante o estio.Há o tempo da geada e o tempo dos calores.
É aí que eu me encaixo neste tempo...
Meu tempo hoje chama-se CLIMATÉRIO,senhoras e senhores!
Logo comigo,que ontem mesmo dancei a valsa dos meus quinze anos,que ante-ontem me assustei com a menarca!
Climatério tem a ver com calor e tem a ver com tédio.
Calor de dentro pra fora.
Tédio de fora pra dentro.
Tudo nessa mesma (des)ordem.
Estou mais próxima dos cinqüenta hoje,do que jamais estive.
Meu currículo de semeadora prova que muito plantei,cultivei,colhi e recolhi...terminou o meu estágio no mundo,entende?
Agora, é começar a fazer o caminho de volta.
Que volta,cara pálida?
Aquela historinha do semeador lá de cima também se aplica a outra imagem (minha cabeça ferve de imagens,por que será?) menos térrea e mais planalto.
Olha só:quando a gente cresce,estamos subindo a montanha.À medida em que a vamos escalando com toda a força e energia,mais desejamos chegar ao cume pra finalmente instalar ali a bandeira da confirmação de nossa vitória,a bandeira da sobrevivência à árdua subida.
Depois,'vem a hora de descer,irmã',diz uma vozinha amigável lá de não-sei-onde.
Não se pode pretender ficar lá em cima eternamente:'Chegaste?Muito bom!Agora, desce! Descer é mais fácil,menos cansativo e mais rápido'.
Rápido? Credo!
Eu bem que gostava de permanecer por lá mais algum tempo,mas há um calor que grita comigo,chamando-me à atenção.Que tédio!
Até aqui ,tudo bem!
Cheguei com as minhas próprias pernas .
Aquela menina semeadora e aquela moça que colhia e recolhia não perturbam a esta senhora que ,mais do que olhar pra trás,diz confiante ao futuro:'acabei de nascer pra você'!