NIGHTS OF ETHER #4 / AS HORAS ETÉREAS IV
Sinto pesar em meus olhos essa mesma tristeza que me agoniza o peito
E o fardo dos dias se acomoda em meu ombros, meus braços, em meus dedos
Sinto-me terrivelmente cansado. Não dessa canseira física que nos abate após um longo dia de trabalho ou estudo, mas de uma canseira existencial que me anula perante a vida e o mundo, emudecendo-me e cegando-me para os acontecimentos ao meu redor.
Uma ansiedade ao mesmo tempo clínica e metafísica que me devora os pensamentos, consume minhas forças, abate-me a ponto de perder a capacidade de sentir além da percepção humana, carregando-me consigo para os limites de um buraco negro que se forma no espaço-tempo da razão e da lógica
Conto os dias como quem conta o ponteiro de segundos de um relógio defeituoso, estagnado no tempo, sem energia para mover adiante, incapacitado e esquecido na parede do porão de minhas próprias reminiscências
Anseio desesperadamente por partir de mim, deslogar dessa realidade impiedosa que mais me parece virtual e fria
Meus dedos estão rígidos de pensar por mim, de sentir por mim, de viver por mim, de despejar no papel o vazio e o abandono de minha alma desalentada
De emprestar corpo e forma para sentidos abstratos, imateriais cuja verdade se esconde no recôndito de uma mente deprimida e inquieta
E testumunhar comigo o distanciamento irreversível deste eu confuso, conturbado, inverídico para este mundo, cuja incapacidade de reconhecê-lo em sua natureza pura beira o auge da insanidade
Confinado no compartimento incomunicável da natureza humana, impossibilitado de transmitir, por meio que seja, a sua dor...
30/07/2022