Poucos percebem

No campo de batalha, onde cada instante vibra com a tensão da incerteza, encontro-me dividido entre o dever e um sentimento que arde silencioso. Seus olhos, profundos como abismos, cruzam os meus com uma intensidade que desafia as ordens e as máscaras que vestimos. Cada sorriso esquecido entre as trincheiras, cada toque acidental na poeira levantada pelos nossos passos, alimenta uma inquietação que não consigo silenciar.

As noites são longas e os sonhos se misturam com as estrelas que testemunham nossa luta. Em meio ao caos, ele se torna meu refúgio inesperado, uma calma na tempestade. Sua presença sutil é um convite para além das batalhas externas, para explorar os territórios complexos do coração. Mas a dúvida me paralisa: como declarar o que sinto quando a guerra não deixa espaço para vulnerabilidades?

As palavras permanecem presas na garganta, enquanto os gestos falam em silêncio. É uma dança delicada entre o querer e o temer, onde cada olhar é uma promessa não dita, e cada gesto, uma coragem escondida. No brilho dos olhos dele, vejo a possibilidade de um amor que desafia as ordens e as expectativas, mas temo o risco de expor o que realmente sou.

Entre os sussurros do vento e o estrondo distante das armas, guardo o segredo do meu coração, esperando o momento em que as palavras possam se libertar. Até lá, ele e eu navegamos por esse terreno incerto, onde a atração silenciosa é a única certeza que temos.

Poucos percebem que as pontes flutuam sobre sonhos que os rios escrevem com pedras.

Fernando de Fidenza
Enviado por Fernando de Fidenza em 01/11/2024
Reeditado em 01/11/2024
Código do texto: T8186811
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