Poucos percebem
No campo de batalha, onde cada instante vibra com a tensão da incerteza, encontro-me dividido entre o dever e um sentimento que arde silencioso. Seus olhos, profundos como abismos, cruzam os meus com uma intensidade que desafia as ordens e as máscaras que vestimos. Cada sorriso esquecido entre as trincheiras, cada toque acidental na poeira levantada pelos nossos passos, alimenta uma inquietação que não consigo silenciar.
As noites são longas e os sonhos se misturam com as estrelas que testemunham nossa luta. Em meio ao caos, ele se torna meu refúgio inesperado, uma calma na tempestade. Sua presença sutil é um convite para além das batalhas externas, para explorar os territórios complexos do coração. Mas a dúvida me paralisa: como declarar o que sinto quando a guerra não deixa espaço para vulnerabilidades?
As palavras permanecem presas na garganta, enquanto os gestos falam em silêncio. É uma dança delicada entre o querer e o temer, onde cada olhar é uma promessa não dita, e cada gesto, uma coragem escondida. No brilho dos olhos dele, vejo a possibilidade de um amor que desafia as ordens e as expectativas, mas temo o risco de expor o que realmente sou.
Entre os sussurros do vento e o estrondo distante das armas, guardo o segredo do meu coração, esperando o momento em que as palavras possam se libertar. Até lá, ele e eu navegamos por esse terreno incerto, onde a atração silenciosa é a única certeza que temos.
Poucos percebem que as pontes flutuam sobre sonhos que os rios escrevem com pedras.