Eu e você desafiando o capitalismo
Gosto de escrever como eu vivo, com o maior sentimento de liberdade possível. Não, não tenho tempo para chorar mágoas passadas, o que foi, se foi. A decisão de dizer adeus e não olhar para trás se deu quando subi no caminhão e parti daquela cidade que vinha me consumindo. Quando o caminhão desceu a serra da Mantiqueira eu abdiquei ali naquele instante de todas as bagagens possíveis e descobri que trinta anos cabiam em um caminhão pequeno - e que isso bastava.
Eu desci aqui na cidade dos anzóis, você me recebeu em nossa casa com a varandinha dos meus sonhos e com muito amor. Eu nem sabia até então que amor às vezes é o que a gente precisa para encontrar o caminho de volta para casa, na verdade eu imaginava que o amor era bonito, mas não imaginava que ele me tiraria do inferno em que me encontrava e que me daria um canto seguro para me recuperar da guerra que travei por sei lá quanto tempo - perdi a conta do tempo de dor.
Cheguei na terra dos anzóis morrendo de medo, sem emprego, sem saber mesmo o rumo que iria tomar, mas você me disse: Vai dar certo, vamos nos ajudar.
Aqui na cidade dos anzóis faz calor de dia e venta a noite, às sextas vamos ao terreiro, aos sábados nos embrenhamos pelo mato: eu, você e seus Oxóssis e aos domingos almoçamos com sua família e você constrói mesinhas de canto que não ficam muito boas, mas que são feitas com amor.
Acho que isso é sobre dar certo. Sim, ainda estou procurando um emprego, meu humor ainda oscila e eu tenho alguns pesadelos, porém, tenho pensando que a vida pode nos oferecer coisas mais belas e exemplo disso foi você ter surgido na minha história como um passe de mágica - golpe do destino.
Agora, estamos aqui construindo nosso lar e ele tem ficado cada dia mais bonito e sólido. Nunca fui muito romântica, mas ter você na minha vida é como ter meu amante, meu melhor amigo e meu companheiro em uma pessoa só. Eu, você, cinco gatos, um cachorro e uma vida pela frente.
Encontro um cílio seu e o posiciono na ponta do meu dedo indicador e falo para você fazer um pedido e eu faço o meu. O cílio fica no seu dedo, eu te pergunto: Qual foi seu pedido? E você me responde: Para que sejamos felizes.