AMOR AMEDRONTADO

Uma nuvem, branca, sorridente, sábia, aos poucos foi se adensando.

A reconfortante alegria de encontrar guerreiros vitoriosos tomou conta do lugar.

Fotos e vídeos viriam, virão.

Junto, a força ainda maior para continuar a luta.

Dia seguinte, a entrevista intrigante.

Dinheiro para a saúde, para os idosos. Sem consignado.

Refleti sobre isso como quem usa o aplicativo (e os óculos) para aproximar a imagem.

Percebi que, enquanto eleitor e consumidor substituível, meu valor é reduzido.

Mais natalidade, menos cuidado com a vida.

Comparei Inglaterra, Brasil, África.

Chocado com minhas deduções, adormeci.

Acordei hoje, dia branco, pensando.

.........

Pensando no amor.

E, enquanto pensava,

no nosso bairro do Cosme Velho,

nas luta internas entre moradores ávidos por uma recuperação da qualidade de vida perdida por anos de desinteresse público,

na ocupação cultural da Praça São Judas Tadeu,

na alegria incontida dos turistas que nos visitam,

na contagiante algazarra de crianças e adolescentes subindo e descendo a rua durante o ano letivo,

nos apitos dos guardas,

nas freadas bruscas que, às vezes, evitam atropelamentos,

nas sirenes das ambulâncias e das escoltas de políticos,

nas buzinas,

nos gritos dos tucanos,

nos tropeços das pedras portuguesas,

nas bicicletas sem espaço definido,

nos skates desafiadores,

nos canteiros desafinadores,

nos carros com duas rodas sobre as calçadas,

nos carrinhos de bebês com duas rodas no meio da rua,

na nossa precariedade de votos e de consensos,

nas flores que brotam e embelezam o caminho,

na ausência das necessárias calçadas,

Ouvia, neste dia branco, uma bela música de um ilustre morador do bairro

"Se você vier

Até onde a gente chegar

Numa praça

Na beira do mar

Num pedaço de qualquer lugar..".

(DIA BRANCO - Geraldo Azevedo)

E quando escutei, ao final,

"Se voce quiser e vier, pro que der e vier, comigo"

Pensei em tomar meu amor pelas mãos, e caminhar,

Rua abaixo,

Rua acima,

Em direção à Praça,

Ao encontro do mar.

MAS TIVE MEDO

Sergio Castiglione