Tudo o que é denso não pode ser tão alto
O indivíduo que carrega o fardo de ser quem de fato é, embora envolto em uma melancolia particular de nebulosa profundidade, jamais terá a alta energia daquele que cultiva a vida em seu interior nos ditames dos pensamentos positivos que têm como mote a felicidade dos aristotélicos, os prazeres dos epicuristas e as emoções dos estoicos. O ser denso por natureza é fisicamente mais pesado em comparação com aquele que levita do equilíbrio para a harmonia, porque a imensidão não comporta a elevação do espírito, senão o entranhamento em sua mais inatingível verdade.
Não é difícil identificarmos o ser altivo, tratado com especial afeição ante o carisma que frequentemente emana em detrimento do ser espesso em sua matéria retraída de aconchego singular. Pode-se dizer que a energia de alguém está alta quando o ser vibra em uma frequência que destoa dos demais tendendo ao polo positivo, enquanto que a baixa energia comumente é associada à sucção do bem pelo mal, que esfria o mundo. Assim se dá a incompreensão dos que não gozam de um vigor por tantos almejado em aparência.
Apartado de sua consciência individual é o ser que alcança as maiores altitudes e que é capaz de fugir de si para se dar conta da imensidão do mundo, em uma força expansiva, enquanto que o ser denso é autenticamente encadeado aos seus pensamentos mais genuínos e aos seus sentimentos mais silenciosos. Seria um contrassenso físico pressupor que a densa energia seria capaz de galgar degraus mais altos e nítidos, quando a ordem de seu aspecto é enclausurar-se em sua própria força que age de maneira centrípeta e decadente, no mais empertigado dos fluxos cósmicos.
Fleuma errante que destinou a todo vestígio de entusiasmo, um estremecimento. Negra bile encerrada em apatia infindável. Há quem te pense, ó ser das demasias, um sujeito sem futuro e a quem se dirige a expressão de estranhamento e estranha compaixão. Extenso e intenso em contenda, mas somente há luz porque existe a escuridão que lhe ofusca e relembra o valor do clarão. Não há um sem o outro, tal é a correspondência que a lei hermética nos prescreve, tal é a sabedoria do Caibalion em enveredar-se pelo espelhamento de dois opostos que têm a mesma origem e o mesmo ressoar, visto que o que está acima é como o que está abaixo e o contrário só pode ser igualmente inconteste.
Como seres dotados de humanidade, não significa que obedecemos a uma posição estática, já que não estamos impreterivelmente restritos ao temperamento que pretende nos classificar em comportamento e em sentimentos. Oscilamos assim como todos os indivíduos modificam-se, evoluem e retrocedem. Nunca nos foi aprazível a inércia e a exatidão matemática. Ora alcançamos altitude ao sacrificarmos o olhar atento às necessidades interiores, ora adquirimos a densidade ponderativa de um filósofo que contempla a si. No entanto, temos uma propensão para uma das direções e a nossa mente se opera a partir daquela com a qual pertencemos na maior parte do tempo.
Eis o paradoxo que nos rege, vez que a fonte de nossas diferenças é una, ainda que altura e densidade em nada se assemelham quando com a certa dificuldade do contra-magnetismo, são postas lado a lado para fins comparativos. Mas mesquinho é alongar-se na comparação entre forças incomparáveis, que dentro de si mesmas encontram a essência do que são naquele instante ou naquela predisposição anímica. O livre arbítrio ainda perdura, mesmo sendo ele condicionado em anterioridade. Não há decisão integralmente isolada de valores e a genética nada determina quando o assunto passa pelo crivo enérgico, basta uma inclinação para a melancolia ou para o otimismo. Quanto a este último, mais válido é falar em uma reta ascendente.