O DESIMPORTANTE SER

Aos poucos as coisas que formavam uma pessoa foram deixando de existir.

Os instintos passaram a ser moldados por crivos politicamente corretos sob um manto de processo educador.

Os sentimentos não primários caíram sob o jugo dos processos midiáticos, e seria correto sustentar a ideia de “lavagem cerebral”.

Nós lançamos num vazio de falsa proximidade e, por paradoxo, nos encontramos nos likes contabilizados.

Somos humanos “em franco processo evolutivo” que não mais buscam pares, olhares e afetos, e sim seguidores possuidores de arrobas e underlines que possam alavancar nossos egos ou criações.

Pela manhã, sento para refletir num banco de dois lugares na varanda lá de casa.

Me acomodo sobre uma almofada e retiro a outra ao meu lado.

Porque Manah, a “perigosa” Chow-Chow que me faz companhia prefere se aconchegar sobre a madeira.

Dela, ganho mais lambidas do que qualquer quantidade de likes sobre este ou qualquer outro post que publique.

E o rabo que abana pela felicidade compartilhada é múltiplo de cem sobre os compartilhamentos da minha vida virtual.

É fato.

Somos humanos.

E talvez por isso exista um pequeno pássaro escondido entre minhas reais ou metafóricas árvores, que canta bem cedo todos os dias, para me curar da virtualidade e me tornar, por mais um dia, um ser importante.