Ardor.

 

De longe, muito longe, a abranger as dimensões tempo e espaço,

Numa espécie de túnel do tempo, vem a ecoar “La Malagueña”, 

Em seus agudos, na dulcíssima voz, que penetram e encantam a alma…

E eu vejo, à guarânia, suas castanholas a vibrarem,

Quais chocalhos da desperta víbora, a anunciar aproximações,

Vejo seus olhinhos de águia a sorrirem,

Numa performance dançante, astral…

A trigueira cor a se projetar em nuances, envolta num translúcido vestido cigano escarlate,

Uma bandana preta, com figuras esotéricas em cinza, com predominância de flores, 

A moldar e salientar o seu belíssimo rosto,

Enquanto o rubro vestido se molda ao seu corpo, a suscitar imagens fascinantes, 

A evidenciar seus contornos que assanham meus mais insopitáveis quereres…

Uma noite, uma fogueira e aquilo tudo…

Sonhos chegam-me em fragmentos,

Quais rolos de filmes de fotografias, quadro a quadro,

Com cenas que nem a mais densa poeira do tempo consegue apagar,

Com tal quantidade de pixels, que extrapolam a realidade…

E que, por tanto ardor, exige-se o paradoxal sobrestamento…

Por fim, alheio aos ígneos desejos meus,

De súbito e invariavelmente, sou para o mundo desperto…