A saga de um agradecido curumim.
Já virei madrugada tomando conta de Judas,
Já adentrei em matas, reino de Xangô,
Já gangorrei em cipó, feito símios e Tarzan…
Já fiquei preso pelas pernas, nas locas do Caboclo D’Água, feitor fiel e obediente…
E só fui solto por ser chegado de Iara…
Eu vasculhei as noites, em busca de nada,
Varei rios, venci morros, cruzei estradas…
Fui tantos heróis… corria e rastejava.
A fugir das carrancas, qual peixe nadava,
E para cuidar de fantasmas eu também voava.
Fui índio, Zumbi e capataz nos carnavais,
Usei espadas, espingardas, revólveres e cavalos,
Usei chapéu de cowboy e capa para voar…
Passei por terreiros de Ogum,
Sobrevoei o universo de Oxalá,
Incorporei Quixote e amei tantas Dulcinéias!
Quantas vezes joguei no ilusório Maraca, com mais de cento e cinquenta mil pessoas…
E acordava abraçado à bola Pelé…
Que quanto efeito pegava!
Fui médico, feiticeiro, fiz chover…
Chorei, em caco de vidro pisei, minha mãe assoprou, incrível, não é que eu sarei?
Com quebranto muitas vezes fui benzido,
Agradeço as benzedeiras, as parteiras, madrinhas e mães de leite…
Tudo foi tão bom que não consigo esquecer…
Agora, pra lá de feliz, posso dizer, às crianças de hoje,
O que é, realmente, viver!