Arpoador
A única coisa que restou de nós foi a foto que tiramos no meu lugar favorito no mundo. É uma foto que tem coisas que eu amei e grande apresso carrego.
A foto tem o por do sol, um dia fresco no Rio de Janeiro - raríssimo e uma pedra lá no fundo, onde a onda quebra. Gaivotas passeavam e o cheiro de maresia - consigo sentir. Registro de um dia perfeito no arpoador. Minha tia, que ainda era minha tia, disse para sorrirmos mais em uma segunda tentativa de tirar a foto - a segunda versão se manteve. Guardo esse dia no meu coração, confesso ser um dos meus dias preferidos - dias que valem a pena terem sido vividos.
Penso agora sobre os dias perfeitos e o que os compõe - constata-se sua perfeição de cara ou o tempo aprimora nossa percepção? Não sei e nem me lembro do que pensava ou se tive conciência. Apessr disso aquela fotografia desperta-me coisas muito boas - quando você e eu éramos outros, com outra fisionomia e nem imaginávamos o quanto de merda iria rolar. Penso com ternura também antes que me chamem de amarga. Penso com grande afeto e com leveza - lembro de sorrisos e abraços. Há um mix de sentimentos, mas não há a mínima vontade de voltar. Seguimos, a vida fluiu. Não sinto sua falta. Mas, que saudade do Arpoador e dos dias frescos no Rio de Janeiro - que deixam a cidade mais bonita. Saudade do mar e das ondas que batem nas pedras. Saudade sotaques carregados, da minha tia quando ainda era minha tia. Saudade do Arpoador.