Solidão: solo fértil
Solidão quando atravessa,
Revela a aridez do solo.
Isso o faz enxergar a si
Com tamanha realidade
Que ele confunde sua imensidão com vazio,
Possibilidades com escassez,
Espaço com ausência.
E sequer percebe que tudo pode,
Em si, plantar.
Sementes férteis encontrarão nutrientes
Na profundeza daquilo que parece não ter nada a ofertar.
Doce ilusão, pré-julgamento, pré-concepção
Daquilo que não se sabe o que é,
Até regar e semear.
Quais plantas se desenvolverão?
Quantas flores brotarão?
Quais frutos amadurecerão?
Quais pássaros, insetos e outros animais o habitarão?
Ainda que tenha em si todo o potencial
De vir-a-ser campo,
Se enxerga deserto porque semente nenhuma o pôde adentrar.
Percebe, então, com a visita da solidão que
Pode invocar Oyá.
Então receberá aquilo que falta
Para sua potencialidade alcançar.
Esqueceu que, embora deserto, é vivo.
Ainda que na superfície nada se possa enxergar.
O que há de mais precioso, em si,
Só a profundidade do solo e a magia das águas
Pode abrigar e gestar.