O lado escuro da lua
Intrigam-me as lunações aquáticas em que transbordo em mim. Mas, me intrigam muito mais as luas novas que esvaziam o céu, escuridão também clarifica. Às vezes é necessário repousar em quarto escuro e manter- se no mais profundo silêncio e aquietamento interno, quase como que em estado de meditação. Tem dias que fico no escuro e lá mesmo clarifico minha mente, minha alma e penso que nem sempre o excesso de luz deixa tudo mais claro. Lembro-me disso principalmente quando acampo e no meio do nada posso enxergar as constelações. A mais visível e fácil de se identificar é escorpião, pelo menos para mim. Identificar o céu é um jogo perigoso - uma vez escrevi algo sobre isso e era mais ou menos assim:
"Observo o céu rosa púrpura - céu que me vejo, te leio e nele escrevo. Decifrar o céu alheio é íntimo e perigoso - penso. Reparo, você não me lê. A minha pira é outra - sempre foi. Eu entendo de estrelas, mas de gente nada sei. Essa coisa de gente sempre foi uma dor e uma delícia."
Inclusive faz alguns anos que parei de desvendar mapas ou me embaçar em quadraturas. A vida na terra tem sido agitada e os trânsitos de 2012 pra cá - pesados. Mas, de fato, as lunações ainda me intrigam. Nasci numa lua nova - a lua em que nada é visível - a lua bruxa. Aprendi a gostar, porque às vezes é o que podemos fazer - aprender. Aceito agora a minha total incompreensão e recebo isto: o direito inalienável de não saber. O direito a dias escuros e de dor em que se pode renascer ou perecer - eu renascerei enquanto for possível.