A janela do escárnio

Como pode a luz de uma lâmpada ser mais fascinante que a luz de uma estrela morta?

A noite possui versos indecifráveis e os móveis estalando por física ou visagem se misturam aos grilos e miados, aos céus nublados e inquietos.

O motivo da minha insônia? A palavra: incólume!

Que palavra maldita!!!!!!!!!!!

INCÓLUME.

"Adjetivo de dois gêneros. Sem lesão ou ferimento; livre de dano ou perigo; são e salvo; intato, ileso."

A palavra ecoa junto com os grilos intranquilos.

Escrutínio de escárnio! Nunca estive ileso, livre de dano ou perigo.

A noite cala, o galo canta. A cidade mais ou menos morta. Logo, um sol, um azul e cânticos de pássaros, mas não mais grilos.

Incólume: minha mente jamais esteve sã. Eu nunca quis ser poeta. Mente cheia de pensamentos soltos!

Num contexto maior, sou o homem com insônia olhando a cidade ora morta, hora viva pela janela. Observando as luzes, ouvindo os sons, pensando nas próprias crises, nas próprias contradições. A janela revela o mundo, o céu, a terra. Reflete os vazios e as angústias. O sarcasmo é tão forte que pode ser comparado ao suco gástrico de um refluxo sufocante.

Escárnio da vida absurdista. Aos olhos do poeta morto, incólumes sonhos crepitam.