COISAS SANTAS

(14/04/17)

 

 

E cada um, de alguma forma,

Contribuía para a paixão daquela sexta-feira.

 

As mãos já trêmulas,

E os pés formigando,

E as dores esquecidas,

Doavam-se ao preparo do almoço.

 

Uma ova, algumas na verdade,

Petisco de que poucos se agradam,

 

Saíam da frigideira ao prato.

E do prato, em segundos, ao gosto.

 

No antigo móvel novo,

Que seria ornado com bandeja de prata,

Repousava naquele dia o som da tarde,

Que trazia para a casa, Beatles e Lulu.

 

Entra e sai de amigos,

Que completavam,

Com gelo, alho e tabasco,

A festa que se formava.

 

As mulheres sentadas

Em torno da mesa de centro,

Conversavam sobre rimel e baton.

E que os filhos criados não as ouçam.

 

Pratos à mesa, aplausos ao paladar,

Foi-se esvaindo o dia.

 

Lentamente, 

Saboroso às línguas.

 

Que provaram, 

Em sons e silêncio,

A santidade do dia,

E os dons do Chef

 

 

 

 

OBS: a foto da mesa posta utiliza os pratos de cerâmica da artista DENISE BRAUNE