O NINHO

Há alguns dias lá estavam os três bem-te-vis.

Pouco tempo depois, apareceu a primeira folha da estação.

Aqueles já se foram, levando água colhida dos olhos de quem bem os via.

A folha nova persiste, única e absoluta, recostada no muro, a esperar por novidades, e por alguma rega que lhe tenha sobrado.

Há um tanto de tristeza na casa, e um tanto de esperança também, e ambas brotam da mesma nascente.

Chove.

Banham folhas novas,

e bem-te-vis.

Os galhos secos do caquizeiro têm lá seu jeito de mostrar a vida.

Este ano não há ninhos, mas os frutos virão,

é certo,

em breve.

Porque o amor não se foi, senão para os frutos buscar.

Pela janela do quarto, aninhado na cama, vejo no galho seco abraçado na noite de chuva, o recém chegado casal de rolinhas.

E abraçados,

eu e ela,

por mais uma noite,

aguaremos a vida

do nosso novo dia.