Estação de ouro
Toda vez que eu me atrevia a perguntar ao vovô Luiz quantos anos ele tinha, ele logo se esquivava para não me revelar quantos janeiros ele tinha acumulado. Apenas dava-me uma mirada bem jocosa e soltava esta, com a voz bem esticada, depois de um gole daquela pinga do alambique , chamada "Fogosa":
- Hi, meu neto pinta-brava, eu venho de looooooooooonge!
Meu vô querido nos deixou serenamente com 91 anos, bem curtidos e vividos.
A propósito, estou tentando encontrar um nome que simbolize a passagem serena dessas lindas pessoas - presentes ou ausentes - que alcançaram essa etapa da vida. Muitos até que tentaram: velhos(as), idosos (as), antigos(as), experientes, sábios(as), os(s) da terceira idade, os(as) bem-vividos(as), os(as) da melhor idade, os(as) seniores, idade do júbilo, juventude acumulada...
Marinheiros(as) de alto-mar?
Desbravadores(as) de caminhos nunca percorridos?
Contempladores(as) do sol poente?
Admiradores(as) silenciosos(as) do entardecer?
Passageiros(as) do Infinito na (ante)(pen)última estação?
Peregrinos(as) que estão vindo de longe?
Heróis ou heroínas anônimos (as) vencedores(as) de todas as batalhas?
E que batalhas!
Beijo-lhes as mãos e os perfumados cabelos brancos.
Alguns(mas) estão presentes aqui e outros(as)...
partiram sorrateiramente! Quanta saudade, Senhor do Bonfim!
Medalha de ouro para cada um deles e delas.