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Meu ofício -  Alguém já disse que cada pessoa é um poema. Por isso é preciso sentir a poesia da vida. Tentar descobrir novos sentidos para as palavras e o silêncio, novas linguagens  sobre a vida interior  e profunda. Apreciar mais o silêncio - o mais tênue dos silêncios -  do que as palavras. Palavras há, até demais! Dar vez e voz à emoção de escrever. Com leveza e humor,  misturando verdade, sonhos e ficção. As emoções não podem ser silenciadas. Um pouco de tudo, sempre entrelaçado. Escutar e olhar a vida e o mundo com empatia, a partir do coração (alguém já disse  que os poetas escutam,  entendem e dizem o que escutam, mas, infelizmente, só os distraídos, ocupadíssimos com coisas demais, não escutam, não são poetas; somos todos poetas, se nos libertarmos). Ler a realidade com novos olhos e um novo olhar. Recuperar os abraços perdidos durante a pandemia. Lutar  por um convívio familiar e social mais inclusivo, acolhedor e amoroso. Acreditar, apesar de tudo. Ser "acendedor de esperança",  como gostava de repetir o saudoso Dom Hélder Câmara.  Buscar cuidadosamente a beleza e transparência das palavras no berço do silêncio.  Tentar perceber o verdadeiro, o bom e o belo.  Descobrir a simplicidade da linguagem amorosa. Temas preferidos que ardem dentro de mim: cultivar, com a ajuda da filosofia, ciência e teologia, o saber popular e erudito, prosa e poesia, pluralidade de vozes, leitura crítica da realidade, fraternidade, interioridade, espiritualidade, história  e a busca do horizonte chamado transcendência.   

 

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“A poesia liberta a linguagem escondida no silêncio.” (Natália Correia - 1923-1993) 

 

"Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer." (Gracilianos Ramos - 1892-1953)