Caminhos III
Então, aprendi que onde o olhar é leve, pulsa mais que o coração - o entendimento costumeiro construiu-se, devagar, tempo por tempo, lição por lição.
Onde o olhar é leve, o que se releva é o que não importa, de verdade. E a verdade, essa importa. Como o amor, que não é aleatório nem banal nem conveniente. O outro é digno de amplo respeito, mas se a sua voz ou ação prejudica a outrem, ou ao meio, ele precisa explicar-se e, se preciso, ser cerceado em seus impulsos destrutivos, até que se eduque a conviver.
Onde o olhar é leve, a esperança já não oscila. Ainda quando o embaraço teime um tempinho mais, algo mais leve a sustenta, irredutível.
Um olhar mais leve leva tempo. Uma vida inteira. Ou meia. E vale a pena. Despido, alguém, da penumbra dos preconceitos, e também das culpas, rancores, ressentimentos, a luz das gentes e das coisas toma proporções indiscutíveis, visíveis a senso nu, deixando pouca margem para o engano.
Porque onde há leveza já não há dano, quando o olhar deixou de ser mundano, despojou-se, também o verbo elevou o seu propósito, desarmou-se.