Maldito relógio
Relógios de parede.
Sempre estive próximo deles, em especial,
do barulho que eles faziam.
Um ficava na casa em que morei parte da minha infância, bem na sala de estar onde eu passava boa parte do meu tempo assistindo desenhos.
Era o mais inofensivo entre todos, de um soar constante e conciso, fazia-se uma presença notável.
Eu podia escutá-lo quando estava na sala. Contudo, pelo que consigo me lembrar,
possuía sons abafados, cujo a baixa sonoridade me possibilitava ignorar sua presença em determinados momentos.
Além do mais, naquele tempo, eu era uma criatura muito ocupada, estava atrelado a questões muito importantes,
E o relógio, mesmo tão presente,
não era capaz de tirar minha paz.
Alguns anos mais tarde, quando ingressei na escola, havia um relógio lá também.
Um tanto maior que o da minha casa.
Cores mais vivas e forma assustadoramente complexa, tornava-o uma presença distinta, a qual eu já não era capaz de ignorar.
Seu tic-tac era distinguivel mesmo quando a sala estava barulhenta.
Tic-tac,
Tic-tac, Tic-tac, Tic-tac
Só eu era capaz de ouvi-lo
Por isso nunca contei pra ninguém.
Agora, na vida adulta,
Há um relógio no escritório onde eu trabalho.
É imenso, quase ocupa a parede inteira
Possui um aspecto esquisito, cor dourado vibrante, uma forma assimétrica e um barulho
Um barulho estrondoso, como batidas de bateria
Surgindo a cada segundo,
8 horas por dia.
A perturbação é tanta que já não escuto mais só quando estou no trabalho, também escuto nos caminhos de ida e volta,
o barulho é tão intenso que parece abafar minha voz quando converso com outras pessoas
As vezes acordo no meio da noite escutando o relógio.
Há dias que escuto desde a hora que acordo até o momento em que vou dormir
Tento tapar meus ouvidos
Tento escutar uma música
Mas independentemente do que eu faça
O barulho do relógio permanece alto e constante.
Tic-tac, Tic-tac, Tic-tac
Só eu sou capaz de ouvi-lo
Por isso nunca contei pra ninguém