[Nera 07]
Já prometi poemas à luz do luar que não se concretizaram em decorrência da ausência da tinta, do tato e de ti. Houve meia dúzia desses versos em passados distantes - há mais de meio século, quando os amores eram raros, vastos e cegos - e a euforia do amanhã nunca chegava porque não existia. Era ali que eu nascia e morria.
Uma meia que não aquece, uma carta que não chega, duas vidas que não cessam num rompante dessa descontinuidade cíclica e controversa. A tua voz insistente ao redor da cabeceira rangente que não espera. E você dizendo que não erra.
É em meio a essas eras - décadas sem fim de uma realidade paralela à base de luz solar e gin - que o poema seca. Ouço o barulho estremecente do descarrilhar de um trem. Ele chega. Você também.