A desconfortável inconstância da verdade
Ao me tornar um fragmento de matéria um pouco mais esclarecido sobre determinadas coisas, pude perceber o quão não esclarecido outrora fui, isso, por sua vez, seria um belo desfecho, contudo, a constância com que o fato se repetia, tornou-me cada vez mais cético quanto a validade do atual discernimento. Quando a permanência da condição de incerteza se tornou tão eminente quanto a punheta antes de dormir, para meu próprio bem, fui obrigado a me despir de todos os conceitos e me jogar do precipício abstrato mais próximo. No qual, durante uma lenta e tediosa queda, surgira um doende vestido com as roupas de minha falecida vó, que após desferir os devidos elogios ao meu corpo despido de conceitos, me deu as seguintes opções: cair no bosque da incerteza, onde certamente me irritaria o tempo inteiro com a hipocrisia intrínseca aos belos girassóis, me perderia em noções errôneas de dignidade e teria de suportar todo cansaço mental proveniente dos julgamentos acerca da condescendência da minha mora, Ou então, me afundar calmamente no mar da indiferença, onde nada dessa distopia esquisita em que vivemos será levada sério, não existirá ilusões de esperança em lugar algum e tudo que soar lúdico será válido, desde que transforme o doloroso em suportável e me mantenha no caminho para o futuro que eu almejo atingir. Essas camadas meio metalinguísticas na maneira irresponsável com a qual escapo pela janela do óbvio e assumo os riscos em busca da minha própria satisfação, proporcionam-me uma experiência cosmicamente engrandecedora: em meio a imensidão universal, eu sou um homem extremamente gordo, flutuando lento e constante pelo vácuo interminável carregando fardo terrível: uma incômoda coceirinha exatamente no centro das costas. Minha condição física me impossibilita de alcança-la, ainda sim, torço meus braços para trás, arqueio minhas costas e sigo tentando até o fim dos dias.