Despertar em meio ao caos
Ontem à noite, eu estava parado em cima da minha bicicleta numa calçada que separa duas grandes vias em um horário pós expediente de grande movimentação, quando um caminhão de grande porte que se deslocava em uma velocidade um pouco acima do comum passou por mim deixando uma onda de choque causada pelo pressão do vento, seguida por uma breve expressão sonora que consegui assemelhar a um vinho de rolha sendo aberto no momento crucial de uma festa qualquer. Eu era algo, e estava ali. De repente, o vento se transformou no trânsito, o trânsito de onde emanavam as luzes, as luzes que alimentavam toda a cidade e eu era um viajante involuntário em um carrossel que girava rápido demais. Os sons que ecoam dos pesos da academia, a despersonalização permanente de uma bad trip com lsd de alguns meses atrás, a onda de choque causada pelo vento que fez parte do meu cabelo permanecer levantado por alguns segundos, unificavam-se na composição de um sistema assustadoramente complexo e envolto da sua própria fractalidade, sem a presença de qualquer elemento fundamental que proclamasse um propósito para tamanha indiferença que emanava da multiplicidade das possibilidades caóticas, onde todo e qualquer despertar de consciência seriam apenas passos ingênuos e descuidados no pátio de uma prisão ainda maior.