MEU
Meus mortos e meus amores nunca se foram de fato.
Avesso a rituais e embates,
sempre fugi do pranto ou da desavença derradeira.
Ciclos incompletos, irresolvidos.
Minhas alegrias nunca são completas
Há, sempre, um quê de finitude,
a pequena certeza de um mau porvir,
um diminuto terror, ante o fel dos abandonos.
Resta, sempre, uma pequena angústia
como espinho diminuto que não sai
Um pavor irracional e impreciso
De quem viu olhos sombrios no porão
Minhas esperanças, da mesma forma, trôpegas.
O destemor do infante ante as hostes da planície?
Nunca, jamais o possuí.
Mas, ainda assim, cá estou. E ficarei...
Pois há demasiada poesia na esperança,
Há uma doce tolice na alegria,
mas há desmedida fortaleza em quem desiste
E, sobretudo, demasiada humanidade na imperfeição...