O Contador de História
É tarde e naquela mesa plástica senta o mundo,
Óculos escuros e feição elástica bem de fundo.
Escreve em letras grandes o que vivia e via.
Parecia sonhar e sonhando escrevia e tudo existia.
Um perfil cansado e meio curvado a cobrar os dias.
Precisava de muitas folhas pois a vida longa dizia.
Das esperanças desbotadas ou do peso da vinha
Talvez redemoinhos passavam na praça da alegria.
Naquela mesa plástica escorriam décadas frias,
Amores fartos que iam e vinham, vozes, quem seria?
Lembranças enfileiradas a visitar-lhe todos os dias.
A fazer-lhe companhia e ver o que ele escrevia.