Estação

 

Estive naquela estação por segundos, minutos,

Segundos passados em um relógio quebrado.

Terminou o verão, a primavera, o outono mudo.

Eu ali estática, desconectada, desmemoriada.

 

Estive por horas, ali naquela velha estação fria,

Perplexa, indefesa sem saber o que aconteceria 

No impacto do momento pensamentos jorravam

Milésimo de instantes que me aprisionaram

 

Estive atada à retórica, ao medo, aos fantasmas,

Estive pronta pra tudo, pra nada, pra poucas,

Pelo avesso a me consumir na estação vazia.

 

O barulho do dia roubava-me a leveza da mente

Mas estive ali por séculos, igual mãe de leite

Dois seios a escorrer o rico colostro mamado

Pela cria, pelo o dia, pela filho abandonado.

 

Fui árvore frondosa, dei frutos doces.

Num breve instante já não vi fronteiras,

Uma terceira visão me conduzia por inteira.

 

Minhas mãos eram grandes folhas

A desvendar linhas que se cruzavam 

Naquela estação onde plantei um coração,

O coração do tempo no coração dos homens.