Sobre trilhos mundanos.
Os trens que por meus trilhos passaram, traziam poeiras e notícias de mundos distantes…
Uns até apitavam… outros, apenas “Marias Fumaças”… que só fizeram arruaças e, para fazer fumaça, bastava o meu “di paia”.
Tantos trens! Uns chegaram a infernizar… em cada composição, desarranjos e desassossegos…
Eu na estação, quantas vezes me arrumei de ir embora, com roupas de missa e coração na sacola… Mas, através da espessa fumaça, eu conseguia enxergar a fria estrutura férrea e entre as engrenagens e barulheiras eu pressentia meus imbróglios…
Minha vida sempre esteve entre o apito da apocalíptica figura e o triste som do berrante que chama mais a mim, que a própria boiada…
Aventurei e tomei sim alguns trens, contrariando o combinado e percebi quão caro saíram as passagens!
Do trem que chega, apeiam-se promessas e novidades, naquele que parte, sobem as incertezas e as brutas saudades.
Vi muitos “trem bão” circularem, mas por dentro tão vazios e a levar nada a lugar nenhum: trens fantasmas, a ameaçar as consistências dos trilhos e dormentes, a derribar estações e gares…
Ah, meus misteriosos trens! Como madrugaram! Como se esticaram, meus trens!
Gostaria de saber qual deles surgirá pela serra, para conduzir-me pela inadiável e última partida...