Inconsistências.

 

Minha amiga,

O tempo cuida de autenticar verdades e ilusões…

As paixões se derretem nos próprios fulgores,

Os doces rapidamente se dissolvem em gulosas e ansiosas bocas…

Minha amiga,

Há apenas pesadelos nos conturbados sonos,

Os sonhos ficam sem enredos e distanciam-se dos proscênios,

As emoções hibernam nas realidades, enquanto as desilusões reagem como gases lacrimogêneos…

Ah, minha amiga, não se esqueça: os reinados são tão fugazes!

De repente os súditos pechincham em reinos mais promissores…

O ex rei é morto por sua inutilidade, esquecido até pelos mais reles dos oportunistas.

Não há valia no amor ou na amizade de um rei deposto, assim, vulnerável, restam-lhe os ataques com chamas dos seus íntimos dragões,

Não há mais sol, nem favores, não há proteção, nem regalias, cessam todos os fascínios… 

O que faz algo perdurar são as suas funcionalidades, num determinado sistema ou contexto…

Por fim, minha amiga,

Nada a distingue da massa, aqui, a pelejar ou no modo dela agir e pensar, tudo trivial...

Amiga, você não feriu regra alguma:

Tudo ocorre exatamente como o poço que secou e perdeu sua finalidade, ninguém ali permanece para velá-lo, fura-se outro, alhures. 

Infantil crer que na vida real os reis sobrevivem sem majestade… nem nas mais surreais ou pueris fábulas...

Sem corte... sem súditos, o rei está definitivamente nu!

Minha dileta amiga, sempre haverá sim, algo bem mais real do que os reis: as suas humanas realidades.