MÃOS VAZIAS
– Por que a senhora não pode ler as minhas mãos ?
Perguntou o homem, vestido de languidez, à calejada profissional.
A leitora dos destinos e trajetórias manuais, assim respondeu:
– Em suas mãos não existem linhas, apenas um ponto opaco, quase invisível.
– É que sempre tive uma vida reta, certo?
– Não! É sinal que nunca vivestes. Nunca percorrestes as linhas da vida, derrapastes nas curvas, tropeçastes nas pedras, contemplastes as paisagens. Apenas ficastes parado no tempo e na estrada.
– E isso não é bom? Alguém que nunca errou?
– Não percebes que cometestes o maior erro de todos?
– E qual seria?
– Deixastes de viver!
Disse–lhe, sentenciosa, a senhora. Em seguida arrematou:
– Vais e procuras percorrer a estrada, pois ela se constrói todos os dias, a cada novos passos que deres. Mas é necessário que dês o primeiro.
Então, o estacionado homem percebeu.
Por ter apenas vazios nas mãos, não poderia exigir um retorno da vida pelo tanto que não lhe dera.
Envergonhado, quis pagar.
A senhora recusou.
Sua dívida não era para com ela.
Agradeceu.
Entre desculpas e constrangimentos,
ainda houve tempo de lhe fazer uma ingênua pergunta:
– A senhora disse que não pôde "ler" as minhas mãos, mas fez uma leitura de mim. Como é possível se és uma quiromante?
Ela, em tom didático, completou sua lição:
– Minhas habilidades me ensinaram a decifrar as linhas das mãos.
– Minha experiência, a ler as suas entrelinhas.
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