Jardim
Junto com o tempo vieram as folhas acobreadas
que o vento deixou cair sobre o chão do jardim
que um dia pisamos e que hoje está tão só
e se pergunta de nós.
Onde os pássaros um dia nos assistiram
em momentos de confidência sussurradas
mas ditas de forma tão audível, tão nossa.
Onde estão os pássaros? Onde estamos nós?
Em algum lugar além do sol
macio e tão carinhoso que nos aquecia
e que era paciente com nosso encantamento
de crianças que descobrem o amor.
Ele sorria e compreendia,
porque já havia aquecido e apascentado
a muitos outros casais. Mas éramos nós.
Éramos nós em um único momento nosso.
E não havia outro casal mais apaixonado
naquele tão pequeno instante.
E o banco que sustentava nossos abraços
um dia fora branco, mas ali, naquele momento,
com as cores corroídas, ele guardava nomes
de juras eternas, desenhadas em noites de amores
por casais que como nós foram felizes juntos, juntos.
Antigo dolorido e já tão cansado
sustentava nossos abraços tinha um encantamento
já tão velho, tão passado em suas tintas
que tinham tanto enlevo e tanto riso.
Juntos ficávamos encostados um no outro
e você me abraçava.
Seus braços me enlaçavam, longos, pálidos,
desnudos e frios.
Me cingiam de forma tão eterna,
me sufocando no amor, de amor, com todo o amor
que podíamos sentir um pelo outro.
E as árvores nos guardavam com seus longos galhos
que se curvavam diante do silêncio de nossas vozes
que não podiam expressar o que os olhos diziam.
Você me dizia tantas coisas, tantas.
Ainda sinto o calor da sua respiração quente
e a sua pele do seu rosto tão suave.
Ainda vejo você. Sim, você. Ainda você.
Ainda vejo o jardim, o sol que um dia
foi quente e dourado.
Ainda vejo o banco mas ele está tão vazio,
como se também lamentasse o frio
que agora chegou junto com o outono.
E eu aqui olho da janela e penso
se você também estará de algum lugar
olhando em direção ao nosso antigo jardim
como eu estou hoje.