É uma janela
Sim, uma janela
E tem uma cortina que balança ao vento
Branca
Que bonita, tem rendas!
Mas por que estou aqui?
Sentada na cama desse quarto
Nessa camisola de tecido tão macio
Como pelo de gato?
Observo a tudo, quero entender.
Acima da cama o retrato
De um homem com o corte de cabelo bem cuidado,
bigode e uma noiva ao lado.
O travesseiro é de algodão pintado à mão
com flores azuis
Um copo d'agua em cima da mesinha
Ao lado da cabeceira.
O chão é de tacos escuros encerado
E tem um pequeno guarda-roupa
À frente do pé da cama
Tenho as mãos junto ao corpo
E não me arrisco a levantar
Sou frágil
Sinto que sou.
Minha cabeça custa a se manter firme
Treme com o esforço.
Alguém entra no quarto a passos leves
E traz para mim algo em uma bandeja
Parece um prato de sopa
Quente
Olho para ela e tem um sorriso terno
De quem cuida
Devo estar na casa de alguém
Que me acolheu.
Terei caído na rua?
Aceito a delicadeza da presença dela
Ela me alimenta com a sopa
Cuidadosamente
E seca as pequenas gotas que escorrem
No canto da minha boca.
Parece um anjo que sorri ao me olhar
E fala comigo pacientemente
Como uma filha falaria a sua mãe
Ah, tivesse eu tido uma filha assim -
digo à ela -
Tão linda como você.
Ela retribui com um sorriso tão miúdo
Que me desestabilizo ao perceber sua tristeza.