Os olhos estão doentes e cansados

O sorriso quer exprimir, mas não surge

A vida pesa a gravidade da existência

As dores ali presentes pelo tempo

E as frustrações do que deveria ser

As obrigações e a ambição que reclamam por mais

A periferia no cerne e as crenças arraigadas

Homem, Mulher

Mulher e Homem

O sol fustiga

Os passos incomodam doloridos

Não há sequer sombra onde se esconder

Porque não viemos para repousar

Mas para sobreviver

A seu modo

No seu tempo

O mundo está girando e as aves

Migram sempre em busca

Sempre em busca

O solo gretado em fendas cortantes

E a face que enruga em direção ao horizonte

Ainda há motivos para existir

Pessoas para cuidar

Chão a correr

Vida

Filhos e netos

E dura poeira a ser pisada

O gado que marcha abatido

As aves que já não cantam mais 

Os cavalos que resfolegam

O trigo que irá crescer

A raiz a renascer no tempo certo

E a terra a ser reanimada

Braço, suor e sangue

Dentes que cerram no esforço

Do infortúnio a superar.