O homem parecia infeliz

Mas de uma infelicidade pura

Daquelas que se tem quando a vida é dura

E não quando não se sabe o que tem

 

Casaco gasto e cabelo descuidado

Ele olha pela janela do trem

Sentado com o cachorro no colo

Afaga seus pelos grossos

 

Um cachorro não tão grande

Não tão pequeno

Não tão nobre e nem vagabundo

Mas cachorro

 

Sério e pragmático como o homem

O cão também observa a paisagem

Da multidão que se junta

Na plataforma para entrar.

 

O cartaz digital na parede exibe

Uma mulher atraente

Com o celular na mão

Agora ela está conectada

Com a felicidade plena da vida.

 

Ninguém olha para o homem

Não há o que ver

Mas alguém percebe o cão

E acha graça nas orelhas

Grandes, caídas

 

Homem e cão olham na mesma direção

Sempre

Esteja o tempo bom,

Esteja o tempo ruim.

Confiam na presença um do outro

 

E se olham de vez em quando

Para trazer vida à existência.