Pratos e Cacos
O vaso de rosas na mesa de madeira de lei.
O vaso rosa, de rosas, madeira e bens.
A rosa repousa nos bens.
Ao lado a certeza dos pratos,
De mãos, de frutos, de pães;
De manhãs claras e crianças com sapatos.
Uma paisagem rosa sem a rosa de Hiroshima,
Uma janela bela para o horizonte,
Um retrato vivo que me fascina.
Cheiro de mato, flamboyant vermelho,
Acácia imperial, bétula nigra,
Talos grandes na palma da mão.
É Piúva-da-mata acordando setembro.
As flores do nordeste atraem as borboletas
E o deserto na palma da mão tampa as retinas,
Mas o tato corre o mundo.
Flor selvagem, figueira, gameleira,
Engamela a flor de chaco.
A flor do bacuri dentro do meu biscuir
Perfuma a alma e tira os espinhos dos meus cactos.
Abro a voz e solto o canto com meus
músculos de aço,
Ecos sustenidos levam a saudade,
Por entre sertões e cerrados.
Ao meio-dia meu tórax mapeado enfrenta a enxada,
Vejo a vida, vejo a brisa roçando em minha face,
Os meus olhos brilham quando a vida passa.
Une forêt dans la nuit, dans la ma vie.
Amanheço rural e anoiteço urbano.
Cato os cacos e tomo absinto
Na divisa do pensar contemporâneo.
Meus pensamentos vomitam emendas,
Enquanto a primavera escorrega entre os dedos
E a plantação perde-se de vista.
O cafezal fala dos imigrantes,
O açúcar adoça a colônia,
Remedeio, remedeias...
Coloco o remédio na xícara e não tomo.
É preciso deixar as folhas caírem,
É chegado o outono.
O vaso de rosa trincou e jorrou cachoeira na toalha,
Acordando meus invernos reversos.
A meia-noite a flor do águape
Desperta a amburana para dialogar
Sobre novas primaveras.
Eu ainda estou a respirar tudo isso.
Esta manhã catei os cacos
Daqueles dias de verão na fronteira do mundo
E deitei o corpo na areia a ouvir dela
Os reclamos.