A BONECA

O brilho da vidraça aguça a curiosidade da menina

Que anda puxada pelas mãos da mãe

Uma touca na cabeça protege-a do frio

Casaquinho, calça de lã e botas.

Sua mãe tem pressa, está atrasada para algo

E não lhe fala a não ser quando a censura

Da lentidão aferrada no andar.

A vidraça brilhou, ela viu

E passando em frente avistou

A boneca sorrindo sentada.

Ao lado da boneca havia um cavalo de madeira

E um grande tabuleiro de xadrez

E um peão colorido em listras.

A boneca é vívida e olha para ela

Com sua boquinha pintada de vermelho

E um vestido azul de flores amarelas.

A menina para extasiada e se desenlaça

Da mão da mãe que a levava.

E em frente à vitrine abre a boca admirada

E estica as duas mãozinhas para a boneca

Querendo alcançá-la em um abraço.

A mãe mais uma vez a pega

E dessa vez mais forte a arranca

"Vamos, menina!

Que se a creche fecha

não chego ao trabalho hoje".

A menina se vai arrastada pela mãe

Cabeça para trás ainda vê

A boneca que parece acompanhá-la

Pela rua até a esquina

Com o olhar de quem a queria.