Texto têxtil
Caligrafia tece a insigne letra em lã vã
pelos fios ligeiros do tear das palavras
na tessitura dura do instrumento costura
o texto que urge enquanto a malha urde
no palpável aconchego do linho claro.
A faina mecânica o cashmere dissolve
em algodoada escrita vestida de céu
entre nuvens e novelos, nus e novelas
o corpo se adere à indumentária restrita
vestindo o calor em pele de vida inscrita
remendada em largo véu de lisa textura
que se entrelaça na mão de quem cerze
feito saia azul de fazenda antiga na cerca
do sítio de roupas lavadas penduradas
sob o sol que quara e esquenta o corpo
já esquecido dos aromas tão distantes
exalados pelos panos no chão espalhados
em pobres fábricas de anos enferrujadas.
Toda origem é despida do estofo esforço
em cobrir a natureza e a candura inocente
com a rede sintética de amarrilho bordado
Mas a acetinada existência exige a nobreza
de vestes emplumadas no ser distinto e breve
em culta teia que aprimora sua boa silhueta
e na sede de torpor pela sedosa escrita cuja
caligrafia tece a insigne letra em lã vã
pelos fios ligeiros do tear das palavras