Amazônia Duas horas da madrugada. Hora enrugada. O silêncio foge das copas. Ouvi-se de longe o grito das árvores, É um gemido forte, sofrido, repetido. As sombras das guilhotinas assustam, Olhos espiam: O melancólico macucão, O pássaro assobiador, Os corurões, as arapongas. São olhos fundos na escuridão. São olhos de muita dor. Dos ensejos, Dos desejos, Dos enredos, Das feras devoradoras e predadoras Fogem até as formigas carnívoras. Desarrumar o cenário é o segredo. O uirapuru cala a floresta, A revoada dos corocas saem em retirada. As sombras respiram ofegantes, O desejo humano desliza nos dedos. Está na boca dos que silenciam, Está nas mãos de quem oculta. Mãos ocupadas que fazem da floresta Praças com nomes E sarcasticamente põem flores Nas salas de estar.