Suplício de Tântalo O despejo, o lado manco, o soterrar dos trapos E o relicário eu viraram traças dos armários. O choque de palavras jogaram pimenta no mel A tecer o tédio no calor da fúria. Um barulho acordou a razão, foi o vendedor De serviços que passou lá fora. Conserta-se fogão, conserta-se fogão, conserta-se Ilusão. São sutilezas sociais que sugam a saliva, sangram e ferem as necessidades. Busquei no guarda-roupa lençóis, eles estavam molhados do suor do dia anterior, Cheirava a Sonhos pragmáticos. Há algo solto que está a se perder É a noção do retorno. O velho trago foi abandonado. O cigarro e os resquícios da fumaça. Uma parte em delírio se desprende da outra parte Que ri atoa. O mesmo casaco velho cobre o corpo surrado Do meia noite ao meio dia. Da varanda ouço a música dos pássaros com ouvidos desatentos. Quão efêmero é o líquido precioso. Seca o mar dos pensamentos enquanto eu devoro o dia na elevação da prece. As paixões estão estampadas nos jornais E a campanhia não toca. Nesse ínterim verto em escritos latinos o Carpe Diem. O avião passa baixo, estremeço. Mas gostaria de ser esse pássaro mecânico Pelo menos agora. Há uma estrada, um outro céu a me esperar Lá fora. O paralelo me sufoca, o quadro me sufoca, O teorema é um alerta. Hoje saímos as ruas mas não cruzamos a Mesma estrada.