Varas de Pescar
Nesse instante vejo que é tudo tão forte,
Tão eterno, tão presente em minha mente,
Em meus dias, na minha história.
Vividos ali no fundo do quintal.
A manga doce a cair do pé madurinha,
A jaca a cair com os bagos a mostra,
O fruta-pão, pão nosso de cada dia.
Tudo a se passar pelas minhas retinas.
A pontezinha sobre o Rio, o rio a chamar.
O barco no aguardo em total silêncio.
A vara no canto da sala.
A isca,
A linha,
O peixe.
A calma.
Meu pai despertava o dia e com ele meus irmãos.
Vamos, vamos meninos,
O rio espera,
O relógio não para.
Peixe no prato,
Barriga cheia.
O café na mesa a esfumaçar
Enquanto meu pai acordava a vara.
Meu coração saltava dentro do peito.
Tudo emoção, aventura, descoberta, desejo.
A tarde pegávamos os cadernos
E andavamos vários quilômetros
Até chegar na escola.
Ali escrevíamos de tudo.
Meu pai costumava dizer:
Meu filho, te ensino a pescar
E você me ensina a ler o mundo.