Portais
São portais, portais, portais
Cada um de madeira de Lei,
Pesadas portas, largas, fechadas.
Aparecem no sonho com escadas
Enormes ao longe, as portas, os ais.
Sono profundo prende-me a cama,
Portas sem trinco, borboletas sem asas,
Molhos de chaves, buraco negro, sacada.
Grandes mãos em busca de almas,
Em câmara lenta um cavalo alado
Arrebenta os espaços, espaço pardo.
Antes do amanhecer portas abrem-se
Um quarto de luz toma os pés azuis.
Uma sombra pelos vãos das portas,
Um vulto de alguém que me espera
A muitos anos, espreita pelas portas.
Há um êxtase que me desperta.
Há um grito na boca entreaberta
Nos degraus da visão hipnótica.
No retorno à porta há uma mão
Estendida, Um palco sem vida,
Um artista que tenta dar o texto.