No Balanço da Rede

 

Hoje eu sou o outro, do outro

Que se debruça na terra molhada

E banha-se no seu dorso.

Hoje eu sou a tua face calejada

E o teu sorriso maroto.

 

Sou os teus dedos ao piano

Ou o sussurro do vento em pranto.

A força do berrante do cavalheiro solitário,

A bravura do mar quebrante, chuar, chuar

Dando seu particular espetáculo.

 

Pensamentos buscam teus olhos perdidos,

Que saem de dentro e passeam por enormes

Precipícios na corda- bamba do umbigo.

Nas cavernas escuras da alma há assóbio 

Que me espera na esquina do outro.

 

A luz sonora dos meus labirintos

Caminham soltos entre teus pés sem ritmo.

Rebenta as cordas desse violão cansado,

Canta a certeza do nosso velho passado,

Vem , vem se faz presente com a tua chama.

 

No Dó ré mi fa deitam-se as pontas dos dedos,

Enquanto, as mãos chamegam os fios dos cabelos.

Onde encosto a cabeça nas noites de frio?

O vento sopra e trás a sorte e está doído pra nos

Ver casados.

 

Então vem mulher trás o teu gingado,

A rede, o gongado. É tempo de lua cheia,

A rede balança, balança e depois de um tempo dormimos ao som do ranger do amor.