SOLIDÃO
Solidão é um buraco cavado na parede larga de algum labirinto.
Tentar fugir de si
É voltar ao começo de tudo
Sem retroceder o tempo
Sem refazer os planos
Sem deter o impossível.
Solidão é um buraco aberto
No dente
Solidão é uma vala furada
Na gente
Solidão é vão
Um senão
Um desperdício de ocasião
Solidão é uma razão
Proposital.
Não faz bem nem mal.
Pois
Solidão é vazia.
E, jamais, ocasional.
Pois, dia menos dia
Toda saída
É o descaminho ao final.
Solidão é assim,
Não tem porvir e se explica não.
É como escrever e escrever e escrever
Sem leituras que deem atenção.
É sorrir sem que ninguém ache graça
E entornar e nem se embriagar
É vencer sem erguer a taça
Um rojão para não comemorar.
Se a sombra venera a causa,
A nossa presença é eloquente.
Eis a solidão.
Dando valia ao que não se presta
Resta contar grão em grão.
Solidão é andar pendurado em olhar para cima
E ainda assim, só enxergar o chão.