PERFIL DETALHADO: Daí assim, cresci sem esticar, esparramei sem transbordar, fingia que fazia e eles que nem notavam. Pulei a década inteira. Depois, ninguém está mesmo devidamente acostumado consigo, a não ser que o que se faça agora seja viver de vaidade. Mas daí não é poesia. De vez em quando fui panamenho e o canal era tentar ser cidadão do outro lado, "e aí, tenho chance?", mas acabava no Haiti das almas: caramba, por que tem de ser assim? Detesto vodca num tanto que fugi das baladas, não que eu viva da sombra - até porque meu coqueiro é alto - mas às vezes é preciso ouvir o que meus pensamentos dizem, pois eles dizem, e as baladas detestam os nossos ouvidos. Desprezei contar a idade, embora aquele camarada do passado milenar, que fazia da mera água um fino vinho tinto, tenha mostrado que quem está nos meus anos merece nascer outra vez. Confiarei nele. E daí que estou confuso?, e então, se nunca fiquei carente? Pai de dois filhos que ainda terei, espero ter mais dois e não dar espaço no carro para tanta gente. É que o pequeno-burguês nos olhos dos outros pode ser o chinês que pratica a vida. Não sou poeta, não sou bonito. Não tenho talento, não decoro textos. Sem chances de ir pra Globo, velho demais para cair na vida. Vou terminar pobre e não estou nem aí. Mas faço de conta que não estou mesmo. Adoro gastar o tempo que nunca tive postando coisas mal feitas na internet. Não sou chinês nem panamenho de passaporte. E, a me esquecer de que é impossível esconder-se à sombra de coqueiro alto... Não tendo mais nada, acabo sendo tudo em mim.
"O verdadeiro escritor não tem nada a dizer. O que conta é o modo que ele diz." (Alain Robbe-Grillet)