Eu Espero O sol castiga o norte, Racham pés, secam bocas Que agarram-se as pastilhas de barro E amarelam as abas dos chapéus. O sol abraça a superfície, Do coração sedento de água E quando a chuva acalma, Deixa sem casa, sem plantação, sem alma. Eu Sol em chama agarro a enxada Acendo o charuto e clamo. Espero E chamo, valha-me Senhor Padre Cícero, Lampião! Antonio Conselheiro! O sol se põe sob meu deserto e eu Com o coração irrigado, Grito Vida, vida. Quem anda à margem, Nessa sociedade neo-capitalista? Somos nós, mas somos Leão do Norte, Refazemos a nossa lida. O sol racha os beiços, A chuva lava a casa. Acorda meu povo! Vamos limpar a cidade, Da lama, do lodo, da falha. Enquanto grito por vida, Um cordel é cantado, Os bezerros amamentados, E a plantação retomada. Eu Espero Debaixo do milharal, A boneca de milho aparecer, O sol adormecer e São João despertar o povo. E eu Espero Que a esperança e a força desse gente façam Abrandar a chama das mãos dos homens, Pois tem festa na cidade, Tem bandeirolas coloridas, fogueira, canjica Milho verde e pamonha, Tem quadrilhas no arraial até o dia amanhecer. E eu Espero...