O Gato que Comia Botas

Uma Canção que desata (os) Nós

O dia será tragado pela noite;

E a noite,

Sugada pelo dia.

Entre o feminino da noite,

E o masculino do dia,

Assim segue a divina embolia.

Novo ou velho,

Ascender e descender,

Chegar e partir,

Sorrir e chorar,

Saúde e doença,

Viver e morrer:

Eternamente gigante,

Imenso, ouro puro 18 quilates,

Conquista infindável,

Conhecimento imensurável,

É o que não se tem.

A vela e a cereja,

Por mais majestosas, belas e apetitosa que sejam,

Enamorados sob lençóis e a penumbra da luz,

Vicejam.

Iniciam com grandes chamas,

Líquidos pelas bordas derramam,

Para acabarem entre os dentes,

Mastigada,

Apagadas,

Em nada.

Porque tudo que é mensurável,

Palpável,

Ainda que mutável,

Nanico,

O fim,

É inevitável!

O Gato que comia botas,

De tanto dar cabo a elas,

Acabou tragado,

Asfixiado pelo odor de uma,

Apenas, uma delas.

Enquanto se preocupam com coisas grandes, valiosas, ostentadoras; Eu tenho olhos para o inócuo, para as coisas sem valor, para o nada, para o singelo.

Manhã fria, a qual o fino sereno era cortado pelo vento, sai para pedalar uns 40 km no entorno de Conservatória. Isso, após um virtuoso e aquecido café.

Rodovia vazia. Asfalto, relativamente molhado. Silêncio quase absoluto. Quase porque bem-ti-vis, maritacas e saracuras gorjeavam e guinchavam, nunca cantoria ruidosa. Louvada Natureza que não me deixa pedalando sozinho.

Montículos verdejantes remontam montículos; cuja fenda formada por eles, vai pincelando a paisagem. Mais acima, um céu nebuloso emoldura o quadro natural, ao longe.

Entre olhadelas no paradisíaco horizonte e na cumplidade das margens da rodovia, sigo pedalado.

De repente, uma tolice me fascina. Simplesmente, era uma Galinha deitada na parte elevada do barranco. Curioso, parei para reparar e estudar o porquê daquela majestosa penosa estar naquele lugar pouca relvado, frio e úmido. Perguntava-me: "teria Ela, tomado o desjejum, como Eu fizera para sair à intempérie"? Tola pergunta, claro, Ela jamais iria dizer por que estava ali àquela hora.

Delicadamente, toquei-a com o pé. Arrepiou-se! como não estava para brincadeiras, bico para que preciso de bico afiado. E tome bicadas: uma, duas, várias! Porém, ao levantar-se para lançar o pescoço em bicadas, alguém a denunciava. Quem eram os denunciantes?

Ora, uma linda e indefesa ninhada de pintinhos. Foi vê-los, minha curiosidade se desfez. Contemplei mais um pouco o zelo de uma verdadeira Mãe, indo imediatamente procurar socorro; o que não deveria estar longe dali.

Deveras, comuniquei uma senhora no bar mais próximo. Assim que ouviu o pedido de socorro em nome da cuidadosa mamãe Galinha, gritou para o seu pai que estava no andar de cima da casa: "pai, vá buscar a nova mamãe do terreiro. O moço disse que está com uma ninhada.

- com uma ninhada linda e saudável! - reinterei.

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 26/04/2021
Reeditado em 29/04/2021
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