Em busca da aula perfeita
EM BUSCA DA AULA PERFEITA
"A beleza de ser um eterno aprendiz." (Luiz Gonzaga Jr.)
Durante décadas como professor eu persegui a aula perfeita. Sabe o que é a aula perfeita? É aquela que gostaríamos que nunca terminasse. É aquela onde todos aprendem. Não existe professor nem aluno. Todos viajam numa mesma aventura, a do conhecimento - infinito conhecimento. Todos fazem parte de uma ciranda, a Grande ciranda da vida de dar e receber, de amar e ser amado, de ensinar e aprender. A aula com técnica e conteúdo, com teoria e prática, com esforço e criatividade.
Um dia a aula perfeita apareceu na minha sala. Eu estava lecionando Administração de Recursos Humanos, em Araranguá, uma cidade o Sul de Santa Catarina, Brasil. A turma era do sétimo período e naquele dia eu queria falar sobre técnicas de treinamento. Turma da noite, a maioria vem do trabalho, cansados. É preciso no começo da aula sequestrar o encanto dos alunos. E a maioria dos meus alunos viajavam de outras cidades, vinham em caravana de ônibus. Eu pegava um ônibus em Tubarão e durante a viagem fiquei pensando na introdução da aula.
Sempre que planejo uma aula não penso apenas na formação, eu me preocupo muito mais na transformação. Não queremos monstros cheios de conhecimento e técnicas. Queremos formar profissionais humanos que usam seu conhecimento para servir outros seres humanos. Na verdade, a satisfação de um educador vem de ver aqueles a quem educou se tornarem verdadeiros seres humanos, não robôs.
Naquela noite, sem querer eu estava em busca da aula perfeita. Comecei com um exercício. Eu sempre gostei de incluir o mundo em minhas aulas. Pedi aos alunos que procurassem no campus algo que fazia parte da vida deles, e que trouxessem para a sala de aula e nos apresentasse e dissesse por quê da importância do objeto. (Notem meu erro: eu falei em objeto).
A aula perfeita nos surpreende. Vai além de tudo o que imaginamos. Eu nunca esperava que aquela aula fosse tão surpreendente. E aí, encontramos outra característica da aula perfeita: ninguém tem completo controle sobre ela. Ela está cheia de improviso, de casualidade, de humanidade.
Eu cometi outro erro: fiquei na sala de aula esperando os alunos voltarem, colocando em dia minhas anotações. Um educador precisa acompanhar a viagem dos seus alunos em busca do novo, do desconhecido - que pode ser surpreendente.
Os alunos voltaram. Um por um foram chegando. A maioria colocou um objeto em cima da carteira. Uma ficou em pé. (Novamente eu distraído). Na aula perfeita, o educador precisa estar atento aos detalhes. Eu estava encantado com tantos objetos e na expectativa do que viria. (Na verdade, apesar de procurar a aula perfeita, eu ainda não estava preparado para ela - apesar de décadas na sala de aula).
"Comecem as apresentações", disse eu.
O primeiro aluno começou a falar: "Eu trouxe uma garrafa de cerveja. Ela me lembra dos bons momentos que passo com meus amigos nos bares da cidade. Nos fins de semana é a minha atividade prefeirda. Gosto de conversar com os amigos, numa mesa qualquer, sem tempo nem assunto a nós controlar".
Houve um verdadeiro alvoroço na sala. Começamos todos a nós olhar. Mais um requisito da aula perdeita: Não há verdadeiro aprendizado sem alegria.
A vez de uma aluna. Ela estava com uma pedra na mão: "Esta pedra me lembra minha caminhadas pela natureza. É assim que uso meu tempo no fim de semana. Tenho um grupo de amigos que gosta de fazer caminhadas. Isso me distrai."
Todos falaram. Alguns repetiram as mesmas experiências. Até que foi a vez da última aluna, aquela que estava em pé.
A última aluna não tinha um objeto, ela segurava uma aluna de uma outra turma ao lado dela. Silêncio absoluto.
"Essa menina ao meu lado é minha irmã. Ela estuda na sala ao lado. Ela é filha do segundo casamento do meu pai e tem 18 anos."
Estávamos esperando um discurso sobre alguma coisa qualquer sobre família. A aula perfeita surpreende.
Ela completou: "Eu nunca tinha falado com ela antes. Quero apresentar vocês a minha irmã..."
A aula perfeita emociona...