Perene Pena, Filosófica Prosa em Poesia
Não espere pontualidade de relógios preguiçosos; de maneira análoga, não se deve esperar moralidade honrosa, de homens de má índole e caráter infame.
Perene
Era noite. Não noite velha, mas era noite; e ainda se via um folguedo de nuvens brancas algodoadas salpicando o céu. A Lua levantava um clarão por entre as fendas formadas pelas ondulações dos cumes; de modo que as partes altas das colinas queimavam sob o fulgor lunar. Um vento leve soprava, roçando as folhagens amontoadas; e no isolamento, o qual viera à terra, as folhas do coqueiro dançava no espigão.
Tornar o semelhante, dependente, é o mesmo que aprisioná-lo às suas próprias fraquezas; sob as quais, nunca mais conseguirá desatar o nós da corrente que o prende.
Ruidosamente, a chuva caía lá fora. Em algum esconderijo qualquer, feito a água oriunda da chuva que escoava pelas fendas do terreno, sem dizer uma palavra, sequer, as letras fluíam nas linhas da folha de papel.
Depois de meses e meses,
Ploc, ploc.
Ploc, ploc!
Onomatopeia nos telhados;
Relva orvalhada;
Colírios derramados;
Catarse atmosférica;
Festa da bicharada.
Ao sertão cinzento / fuliginoso,
De pó, carros, barulho, indiferença, concreto e poeira,
Bem vinda seja,
Chuva benfazeja!
Era noite, nem tanto velha, mas noite alta. O vento não soprava e nem as folhas do coqueiro dançavam, mais. A chuva cessou; entre tanto, o diálogo silencioso entre os notívagos seguiu noite adentro...; seguiu até a revoada de pássaros chilrear o alarido da aurora.
Para a embarcação que está à deriva em mar revoltoso,
Um farol qualquer,
Incidindo luz em qualquer direção,
É sinal de terra firme,
Alento de salvação!
Não era mais noite: nem noite alta, nem velha; mas o arrebol celestial prenunciando o dia! Em breve os raios alarajados de sol espraiariam-se pelo quarto, adormecendo a fala de uma pena sem pena.
E por assim ter vindo ao mundo, dia ou noite, com chuva ou sem, com vento açoitando as folhagens e fazendo dançar as folhas de coqueiros, ou não, logo-logo, Ela estaria saltitando, deixando as suas impressões transparentes sobre as linhas de uma folha de papel, qualquer; afinal, perene e interminável, é a imaginação.
A espécie Homo Sapiens nasce Ser Humano, para depois de muitos anos - alguns quando os dentes estão caindo - morrer homem.
Se de homens desprovidos de boa índole e relógios preguiçosos não se deve esperar nada mais que atraso e imoralidade, após a noite de hoje, da Natureza espere outro belo, colorido e alegre resplandecer matutino, amanhã.
Em mais uma manhã:
Fios de luzes reluzentes;
Pelas gretas adentram.
Arco íris toma assento no divã.
Só e somente, a Natureza tem o suave poder de, segundo após segundo, gerar, transformar e renovar Vidas!
Em mais um dia:
Lauto café servido;
Regozijo de falas ao redor da mesa;
Leve toque de poesia.
Que assim seja, sempre, amém!
Mais vale o chilreado de um pássaro livre, que seguir um turbilhão de formigas em fila indiana, carregando nas costas a provisão que as alimentará na estação chuvosa.
Enquanto a existência das formigas é regulada pelas estações, a esfuziante alegria dos pássaros não tem tempo exato que a regule.