Brenhas de Mim
Não sinto vontade de sair de casa e muito menos, sair para fora de mim. Aqui onde vivo, em meu interior, quase sou feliz. Da qui do fundo da minha alma, sinto o pulsar do mundo. Percebo o quanto ele se agita, se contorce e geme. Ouço uma celeuma que me assusta e me causa transtornos. Não me chamem para fora, não me convidem para nada, não quero interagir eu morri. Mas morri, para um sistema ao qual nunca pertanci. Estou farta de tantas palavras falsas e vazias, ecos vãos... Convém-me a cada dia mais adentrar as brenhas de mim, vaguear pelas encostas do meu ser, viandar pela orla do meu tempo, chorar sobre o meu altar interior, onde tantas vezes me prosto a derramar lágrimas pela dores que me afligem. Por-me-ei a viandar pelo meu eu infinito, até ultrapassar os limites da minha existência, contemplar o que há de mais belo no interior de um ser humano e no coração de uma alma feminina. Quero ir mais além daquilo que circunda o meu ser. Sentar-me-ei pelas sombras das árvores frondosas, em cujos troncos foram enxertados fragmentos da minha infância e os quais floresceram, deram frutos e abrigaram ninhos.
Dali, observarei o entardecer dos meus dias. Meu Doce habitat, inesquecíveis aventuras! Meus verdes sonhos adolescentes, águas correntes que ainda desaguam em mim. Saudades dos meus dias primeiros, cheiro de barro molhado, cheiro de flor de laranjeira!
Desenhos de poeira vermelha, vento uivando no tempo, o luar posto nos terreiros, as chuvas fazendo festa, manhãs risonhas, flores amanhecidas ornamentos do meu chão. Ah! Quem me dera te encontrar em outra esfera oh vida brejeira; fostes tu, tão passageira, por entre o meu mundo encantado, o mundo da minha infãncia e adolescência, envolto em meus sonhos de quimeras...