Aquele Eu
A verdade é que se eu pudesse
não sentiria nada.
Séria sempre neutro, talvez estático.
Não me envolveria em polêmicas.
Não me envolveria em confusões.
Estaria sempre como a superfície de um lago
cercado por altas árvores:
calmo
sereno
pacífico,
mesmo sem ser mar.
Com um ou dois peixes
como hóspedes impermanentes,
que não vieram para ficar.
Mas sempre parado,
sem esconder mistério algum em águas escuras.
Apenas existindo,
esperando os dias quentes de verão
para quase me secar
e os dias de chuva
para voltar a me encher.
Sempre assim.
Sem medo de acabar,
sem medo de transbordar,
pois eu saberia que
seria sempre
aquele
eu.