BARDO DO HARZ: Lamuria hamletiana
Quantos monstros você mesmo não criou dentro deste teu peito, só para ter o luxo de ser compreendido? Mas se esqueceu de que quando mal alimentados são eles que te consomem, e tudo isso por ainda almejar a tola esperança de que em algum lugar vazio desta tua vasta escuridão alguma das tuas criaturas fosse se saciar do que em ti transborda em demasia.
E o coração? Este coração metálico de homem lata, que anseia pulsar humanamente só para ter o deleite de ver e sentir como as pessoas ao redor o fazem, naturalmente, por que a ti o sofrimento tal como é para os outros ressoa em notas indiferentes. Hamlick, pare de tentar ser o que não é, e te lembres de amar a ti mesmo da exata forma em que veio ao mundo. Você ainda é um menino que não abriu mão das coisas de menino, e vai morrer velho sem a virtude de um sábio se não ponderar os desejos da tua loucura, bem como Lear. E cuidado. Cuidado para não sucumbires às angústias das tuas próprias lamúrias. Vai dormir lamentando outra vez, porque é disto que tu és feito: de carne e ossos, o substrato shakespeariano de uma tragicomédia bem redigida.
"Chorou, chorou, chorou
Tal como veio ao mundo
Bem como assim dele partirá.
E até lá tentará contar
Quantas dores
Um só homem pode carregar."
Assim discorre o menino hamletiano, que ainda vive dentro de uma casca de noz, procurando encontrar a si mesmo dentro de todos os espaços infinitos. Quantos reinos pode governar aquele que não sabe governar a si mesmo? "Da palavra ao ato, a quem a fala compete se livra das dores humanas." E ainda sim, não aprendeu. E quando irá?